Conclusões


A sociedade moderna caracteriza-se por uma abundância de informação, associada à sua globalização, num quadro de mudança permanente, imprevisível e turbulenta. São tempos loucos, que fazem novas exigências às organizações e as confrontam com novos desafios.

O conhecimento científico também está a sofrer uma alteração profunda, com a progressiva substituição do determinismo clássico por um paradigma emergente, que tem como arautos a Teoria da Relatividade, a Mecânica Quântica e, mais recentemente, a chamada Teoria do Caos, uma nova abordagem científica da complexidade em sistemas dinâmicos.

A gestão enquadra a sua prática interveniente num referencial teórico que tem vindo a ser desenvolvido ao longo deste século, adaptando-se continuamente de forma a responder às principais preocupações dos gestores em cada momento. Hoje em dia, a questão que mais inquietação desperta nos gestores é a mudança e o seu impacto organizacional

As empresas são sistemas abertos, em interacção permanente com meio onde se inserem. Este conceito foi introduzido pela abordagem sistémica da gestão de empresas, e é hoje aceite pacificamente. A novidade é a noção de que nessa interacção os sistemas-empresa apresentam um comportamento dinâmico, quer no seu interior, quer na relação com o meio, estabelecendo-se ciclos auto-reforçados, que fazem com que pequenas causas originem efeitos mais do que proporcionais e seja impossível a previsão ou antecipação do futuro.

A empresa, como sistema, enquadra-se assim no objecto da nova abordagem científica da complexidade, podendo ser qualificada como sistema dinâmico não linear. O seu comportamento corresponde às principais características destes sistemas: é impossível de prever e está sujeito a ciclos auto-reforçados, com dependência sensível de pequenas causas.

As consequências desta alteração no enquadramento do conceito de empresa fazem-se sentir, em primeiro lugar, no domínio da gestão que lida com a forma e posicionamento da empresa no longo-prazo: a gestão estratégica.

A abordagem convencional da gestão estratégica assenta sobre os conceitos de missão, planeamento e controlo e vê a criação de estratégia como um processo formal e analítico. Está inerente a esta abordagem a convicção de que o êxito será encontrado na harmonia interna e na adaptação perfeita ao meio. A estratégia resulta da síntese de um conjunto vasto de tendências e acções, pelo que um processo analítico como o planeamento parece inadequado para a sua criação. Por outro lado, o carácter formal e detalhado da sua formulação desencoraja a verdadeira mudança organizacional.

Os modelos mentais estão na base da nossa compreensão da realidade e determinam o padrão das nossas acções. Assim, mudando o quadro mental alterar-se-á, necessariamente, a forma como se intervém sobre a realidade. É desta mudança de quadro mental que deverá partir o principal impacto da nova abordagem científica da complexidade sobre a gestão de empresas em geral e a sua gestão estratégica em particular. Se o modelo da empresa como sistema dinâmico não linear que opera sempre longe do equilíbrio corresponde melhor à realidade, este será necessariamente mais útil e a sua adopção aumentará a probabilidade de que as escolhas estratégicas sejam acertadas.

Este novo modelo implica o abandono da perspectiva actual sobre a gestão a longo prazo como um processo de planeamento. No entanto, está longe de sugerir o abandono do longo prazo, implica até que este seja considerado com maior atenção.

A formação da estratégia é, neste quadro, caracterizada como um processo no qual a orientação estratégica emerge, em resultado de um padrão de acções e condicionantes que só é visível retrospectivamente. Esta característica não impede que se identifiquem os factores críticos de sucesso e se possam sugerir algumas medidas para uma gestão estratégica eficaz em turbulência.

Neste sentido, a preocupação fundamental da gestão estratégica deverá ser permitir que as novas orientações estratégicas surjam. Para isso é necessário criar condições que propiciem a criatividade e a inovação, utilizando a aprendizagem complexa de grupo como o método fundamental para que isso aconteça. De forma a aproveitar essa dinâmica organizacional, os gestores de topo da organização deverão saber aplicar novas formas de controlo para gerir o longo prazo, centradas na aprendizagem complexa e no processo político de tomada de decisão (fazendo depender, por exemplo, o explorar de um novo caminho de negócio do apoio que a ideia obtenha dentro da organização). Contudo, para enfrentar a mudança fechada do curto prazo, a empresa deverá manter um sistema de controlo convencional, quantitativo e que envolva um processo de planeamento, de forma garantir a gestão corrente e manter a integridade da organização. Assim, uma gestão eficaz do processo estratégico em turbulência deverá ser capaz de aplicar, em simultâneo, diferentes formas de controlo, em função da natureza da mudança.

A chave para a coordenação destes processos pode estar na criação de uma agenda de questões com potencial estratégico, ou seja, que podem influenciar a orientação estratégica e o futuro da organização. Esta agenda deve estar em mudança constante, acompanhando a evolução da organização, e focando o interesse da gestão de topo.

O controlo estratégico dinâmico pode, neste contexto, partir da detecção, interpretação e selecção dos elementos da mudança interna e externa, para os traduzir na actualização da agenda de questões com potencial estratégico e no enriquecimento da aprendizagem complexa da organização. Da agenda pode resultar a escolha de acções, de forma criativa, que provocarão mudanças internas (com repercussões eventuais no exterior) e que deverão ser avaliadas. Com essa avaliação, a empresa deverá aprender e agir, reforçando os ciclos virtuosos do sucesso e procurando anular os eventuais ciclos viciosos em que tenha caído. Por último, importa salientar a importância da aprendizagem complexa na detecção de questões com potencial estratégico e na sua constante actualização.

Como é evidente, esta é uma primeira abordagem, que carece de aprofundamento e posterior validação. As conclusões são, por isso, necessariamente provisórias e constituem um ponto de partida possível para uma discussão que se impõe.