2. A construção da pós-modernidade e suas consequências


A crise do paradigma dominante no pensamento científico encontra um paralelo, porventura inquietante, na mudança social a que podemos assistir neste final de século. A sociedade moderna parece ter antecipado a pós-modernidade, antes do próprio fim da modernidade.

A vida social moderna desenvolve-se em processos auto-reforçados, ou seja, reflexivos. As práticas sociais são "constantemente examinadas e reformadas à luz da informação adquirida sobre essas mesmas práticas, alterando assim constitutivamente o seu carácter". O conhecimento da realidade altera essa própria realidade. Por exemplo, difundir a informação de que um determinado comportamento social se está a generalizar reforça essa generalização.

Esta voragem pelo novo e pelo futuro faz com a sociedade moderna procure antecipar o seu estado seguinte, donde resulta a ambiguidade da pós-modernidade: a antecipação do futuro torna-se no próprio futuro. Mas o que é característico da modernidade "não é a adopção do novo, só por ser novo, mas a presunção da reflexividade generalizada".

Estas características da mudança social resultam num contexto complexo e turbulento, no qual as empresas enfrentam continuamente novos desafios. É por isso que uma grande parte dos best-sellers de gestão se tem dedicado aos problemas da mudança e da complexidade. Para ilustrar esta tendência, é interessante recordar que data de 1980 a obra de Peter Drucker "Gestão em tempos de turbulência". Cinco anos mais tarde, foi a vez de Tom Peters publicar "Thriving on Chaos". Entretanto, prospectores de tendências inspirados como Alvin Toffler e John Naisbitt editaram várias obras, nas quais procuraram antever o modelo sócio-económico para o qual tendemos. Por outro lado, já nos anos noventa, surgiram obras influentes como "Manager dans la complexité" de Dominic Genelot, "Paradigm Shift" de Don Tapscott e Art Caston ou "O Seminário de Tom Peters: Tempos loucos pedem organizações loucas", para referir apenas três exemplos, que têm em comum a defesa de uma mudança de paradigma. No entanto, apesar de termos como 'Gestão do Caos' ou 'Gerir em turbulência' se terem generalizado, a verdade é não é frequente encontrar em livros sobre gestão uma referência explícita à nova abordagem científica da complexidade. Uma notável excepção encontra-se nos trabalhos do Professor Ralph Stacey, nos quais o autor parte deste novo corpo de ideias para redefinir a gestão, e que constituem o referencial fundamental deste trabalho.