1. Da Teoria da Organização Científica do Trabalho à Teoria Clássica


A primeira abordagem sistemática da Teoria da Gestão assumiu um carácter nitidamente mecanicista, procurando preconizar procedimentos que conduzissem a uma correcta administração das organizações, optimizando quer a forma de execução das tarefas, quer a estrutura da própria organização. É de referir que, antes destes primeiros contributos, já autores como Andrew Ure ou Charles Babbage tinham publicado, na primeira metade do século XIX, a sua visão pessoal quanto à gestão de empresas. Faltava, contudo, sistematização a estes pioneiros, tendo as suas obras um carácter essencialmente empírico.

Foi Frederick Taylor (1856-1915) quem estabeleceu as bases do que ficou conhecido como a 'Teoria da Organização Científica do Trabalho'. As suas ideias, centradas na forma como as tarefas são executadas, têm como principal base a ética protestante do trabalho árduo, racionalidade económica e individualismo. São assim uma orientação pragmática para aumentar a eficiência do trabalho, baseada na experiência pessoal de Taylor na Midvale Steel Company, na Bethlehem Steel Company e em outras empresas com as quais colaborou como consultor.

A orientação de Taylor é no sentido de que a organização do trabalho se inicie com a sua análise científica, de forma a encontrar as melhores metodologias para executar cada tarefa. Depois de definir estas formas de execução, havia que forçar a sua adopção universal e seleccionar os trabalhadores mais competentes para a sua execução (que seriam então treinados para desempenhar a sua tarefa exactamente como foi definida).

Taylor considera que, maximizando a eficiência, se maximizarão também os rendimentos, quer de trabalhadores quer de empresários, pelo que o conflito entre o capital e o trabalho estaria resolvido por esta via. Parte assim do pressuposto de que bastam recompensas financeiras para motivar os trabalhadores e que os administradores se conformariam a ver o seu papel reduzido à organização "científica" do processo produtivo, recorrendo à uniformização de tarefas e à divisão do trabalho. Na realidade, nenhum destes pressupostos se verificou, pelo que quer os detentores do capital quer os trabalhadores demonstraram resistências à sua abordagem da gestão. Os primeiros por verem o seu bom senso e capacidade questionados e os segundos por lhes ser exigido que desempenhassem tarefas puramente mecânicas e repetitivas, tal como se se tratassem de máquinas.

A abordagem taylorista é parcial na forma como encara a gestão, pois considera a empresa como uma organização fechada e se debruça apenas sobre o processo produtivo em si, esquecendo, por exemplo, a estrutura da própria empresa.

Embora continuem a não considerar as inter-relações da empresa com o seu ambiente, as teorias centradas na estrutura consideram a totalidade da organização, indo além da mera racionalização do trabalho. A 'Teoria Clássica' de Henri Fayol (1841-1925) foi o primeiro contributo nesta perspectiva, assumindo uma visão anatómica da estrutura formal da organização. A sua principal preocupação residia nas relações e funções dos diversos órgãos dentro da empresa. Fayol identificou também as principais funções da empresa (técnicas, comerciais, financeiras, de segurança, de contabilidade e administrativas ou de gestão), estabelecendo uma terminologia que ainda hoje é aceite.

A 'Teoria Clássica' preconizava uma estrutura hierárquica, que traduzia uma cadeia de comando clara, revelando uma orientação de natureza militar. Contudo, considerava que a função de gestão estava presente em todos os níveis hierárquicos, crescendo a sua importância nos níveis mais elevados. A função de gestão teria um papel de coordenação das cinco restantes, envolvendo prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.

Os princípios para uma boa gestão também foram enunciados: divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, subordinação dos interesses individuais aos colectivos, centralização, ordem, iniciativa e espírito de corpo. É aqui que se pode encontrar a contradição da 'Teoria Clássica' e do contexto em que esta surgiu. Com uma enorme massa de trabalhadores, necessitados desesperadamente de emprego, sem poder reivindicativo nem instrução, e uma economia em expansão, o fundamental naqueles dias era produzir tanto quanto possível, tendo uma preocupação vital com o comando e a hierarquia, para fazer face às crises de crescimento das próprias empresas. Apesar disto, Fayol reconhecia nos seus princípios a importância da iniciativa e do espírito de corpo. Ficou por saber de que forma é que estes propósitos poderiam ser conciliados com o estilo autoritário de gestão que preconizava.

A abordagem que Henri Fayol propõe na sua 'Teoria Clássica' é eminentemente prescritiva e normativa. Propõe-se prescrever receitas, para conduzir os empresários ao sucesso e aos lucros. Os seus pontos de vista foram mais tarde retomados, pelos chamados autores neoclássicos (como Koontz e O'Donnel, Dale, Newmann e Albers, por exemplo), que procuraram reduzir a rigidez e mecanicismo originais da 'Teoria Clássica', utilizando conceitos de teorias mais recentes.

Outra teoria centrada na estrutura é da autoria do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). Trata-se da 'Teoria da Burocracia', que procura alcançar a máxima eficiência e racionalidade da organização formal. A 'burocracia' de Weber (que utiliza este termo sem a actual carga pejorativa) assenta na formalização, divisão do trabalho, hierarquia, impessoalidade, competência técnica, separação entre propriedade e administração e profissionalização do funcionário.

É evidente a semelhança entre a 'Teoria Clássica' e a 'Teoria Burocrática' em aspectos como a divisão do trabalho ou a hierarquia, pois ambas partem da estrutura formal da organização. No entanto, onde a primeira insiste na disciplina e no comando, a segunda aponta para a impessoalidade e o formalismo.

Um modelo deste tipo seria racionalmente perfeito e poderia ser aplicado virtualmente a qualquer tipo de organização, independentemente da sua natureza. Contudo, esquece a dimensão humana e informal das organizações, conduzindo a disfunções como a despersonalização do relacionamento no trabalho, o conformismo (que conduz ao declínio da criatividade e da qualidade de desempenho), o formalismo excessivo e uma enorme resistência à mudança.

A Burocracia pode ser, por isso, uma ameaça à própria sobrevivência de qualquer organização. Quando deixa que a realidade ultrapasse o quadro normativo estável que procura implantar ou que a indiferença e conformismo se instalem, está a destruir as capacidades fundamentais que uma organização deve possuir para, pelo menos, se adaptar à evolução do mundo que a rodeia.

Por outro lado, a 'Teoria da Burocracia', tal como a 'Teoria Clássica' ou a 'Teoria da Organização Científica do Trabalho', ignorou ostensivamente a dimensão humana das organizações. Cada pessoa, mesmo enquanto elemento de uma organização, nunca deixa de ser comportar como um indivíduo, cujo desempenho depende da sua motivação. A parcialidade destas abordagens não podia deixar de suscitar o seu contraponto com o surgimento de uma nova corrente dialéctica da teoria da gestão.