3. A abordagem sistémica e contingencial
Um sistema é um "todo organizado e unido, composto por duas ou mais partes interdependentes, componentes ou subsistemas, e delimitado por fronteiras identificáveis do seu macro-sistema ambiental". Esta definição abarca um conjunto amplo de realidades. O corpo humano é um sistema, tal como o Sistema Solar, um ecossistema ou uma organização. Foi este carácter pluridisciplinar que fascinou Ludwig von Bertalanffy quando estabeleceu a sua Teoria Geral dos Sistemas, chegando a afirmar que "na ciência moderna, a interacção dinâmica é o problema básico em todos os campos" . Trata-se da constatação de um facto que parece simples: vivemos num mundo de sistemas interdependentes.
É preciso distinguir dois tipos de sistemas. Um sistema fechado não tem qualquer relação com o respectivo ambiente, enquanto um sistema aberto estabelece uma interrelação com aquilo que o rodeia. A maior parte, se não a totalidade, dos sistemas sociais corresponde a este segundo tipo.
A Teoria Geral dos Sistemas assenta em conceitos razoavelmente intuitivos e simples. Cada sistema é composto por subsistemas ou componentes e está integrado num macro-sistema. O todo formado por um sistema é superior à mera soma das partes que o constituem. Chama-se a este conceito holismo e resulta das sinergias que se estabelecem entre os vários subsistemas. Cada sistema transforma inputs em outputs, numa relação dinâmica com o ambiente. A permeabilidade das fronteiras determina a profundidade desta relação. Num sistema, a entropia (desordem) pode ser reduzida e mesmo transformada em entropia negativa, quando a ordem aumenta dentro do sistema. Cada sistema aberto pode encontrar estados de equilíbrio com o respectivo ambiente. Esse equilíbrio pode resultar de um estado de máxima entropia, que significa a "morte" do sistema, ou de um equilíbrio dinâmico. Cada sistema está permanentemente a receber os resultados das suas acções. Chama-se a isso retroacção ou feedback, e pode ser positivo (quando está no "caminho certo") ou negativo (quando se desvia do percurso que tinha sido traçado). Um sistema pode ter múltiplos objectivos. Cada um dos seus componentes pode ter, legitimamente, os seus interesses específicos. Por outro lado, os sistemas abertos podem obter o mesmo resultado partindo de situações iniciais distintas, ao que se dá o nome de equifinalidade.
É fácil observar que estes conceitos correspondem à realidade das organizações. O que a aplicação desta visão sistémica trouxe de novo à Teoria da Gestão foi o fornecimento de um quadro global, no qual podem ser integrados quase todos os conhecimentos colhidos anteriormente, considerando agora também o ambiente no qual a organização se insere. Esta é a grande novidade, pois, até esse momento, as teorias de gestão que tinham sido propostas viam a empresa como um sistema fechado. Taylor concebia-a como um sistema de produção, Fayol como uma estrutura autónoma e os autores humanistas como um sistema social fechado.
Ao adoptar uma abordagem sistémica,
a Teoria da Gestão tinha que começar por identificar
os subsistemas principais que compõem o sistema empresarial.
Cada organização tem um subsistema de objectivos
e valores. Sendo a empresa um subsistema da sociedade onde se
insere, é natural que uma boa parte dos seus valores sejam
determinados pelo contexto em que se insere. Este subsistema inclui
a cultura e os objectivos globais, de grupo ou individuais. Outro
componente relevante é o subsistema técnico, que
integra o conhecimento necessário ao desempenho do papel
produtivo da empresa, bem como a tecnologia envolvida. O subsistema
psicossocial compreende os factores que influenciam o comportamento
individual, como a motivação, as dinâmicas
de grupo, a liderança, a comunicação ou as
relações interpessoais. Quanto ao subsistema de
estrutura, este inclui os meios de divisão e coordenação
da organização, estabelecendo as relações
formais de autoridade, comunicação e trabalho. Por
último, o subsistema de gestão envolve os outros
quatro, estabelecendo os objectivos, planeando, desenhando a estrutura
e implementando sistemas de controlo.
A Teoria da Contingência veio na sequência imediata da abordagem sistémica das organizações, assumindo a inexistência de receitas e considerando, posteriormente, a importância da tecnologia na determinação da estrutura e do comportamento organizacional das empresas.
A abordagem contingencial integra todos os desenvolvimentos que a precederam, sendo esse, precisamente, o seu traço fundamental. Em cada conjunto de situações a importância relativa de cada grupo de conhecimentos pode variar. As organizações devem, assim, preocupar-se com a inovação e a flexibilidade, para se adaptarem às modificações do meio envolvente, pois a sua eficácia não dependerá só das relações internas formais e informais mas também do equilíbrio dinâmico que se estabeleça com o ambiente. A valorização da componente humana ultrapassa mesmo as teorias humanistas, reconhecendo que esta é verdadeiramente importante, não se limitando a tentar que os empregados se sintam importantes.
Estas abordagens de síntese são a primeira resposta às novas necessidades desta segunda metade do século XX. Abandonam as receitas e as prescrições para tomarem consciência do mundo onde as organizações se movimentam. Mas a evolução está longe de parar e, hoje, as empresas defrontam-se com a complexidade, a imprevisibilidade e a turbulência, para as quais não têm resposta. No entanto, será desta visão sistémica e contingencial da realidade que se partirá para lançar a ponte às ciências da complexidade.